Quando ainda criança, brincava
com os filhos de grandes autoridades: juízes, delegados, promotores, advogados
e bem defronte a minha casa morava o prefeito da cidade, era com os filhos
desses que convivi a minha infância e parte da juventude. Minha ingenuidade infantil
e até por conta de que vivíamos um período em que a democracia somente era sonhada
e jamais manifestada na sua plenitude, anos 60/70. Quando estávamos brincando e
os pais dos meus amiguinhos chegavam a casa, os tais doutores meus visinhos,
ficava eu observando-os, seus atos e posturas; elegantes senhores homens da
‘lei’, pensava comigo: quando crescer quero ser igual a eles.
Mas os anos foram se
passando e a inocência foi ficando perdida na lembrança da criança agora
adulta, e fui descobrindo que o ser humano é provido de um rosário de
sentimentos nobres e outros tantos nada nobres, para não dizer mesquinhos,
ultrajantes e sórdidos, muitas vezes somos movidos por opiniões e atos
estúpidos associados a oportunismo, preconceito, intolerância, estupidez,
ganância, inveja, poder, insensatez e vilania. No entanto, nada disso o impede
ou limita a sua capacidade criativa ou sua força realizadora, segundo
Hildeberto há um tipo de ser humano que produz, realiza e dota a humanidade de
trunfos sem precedentes na história do homem.
E no que diz respeito as
nossas autoridades de togas, políticos e outros tantos, os exemplos são
infinitos e quase diários. Um exército de homens criadores, privilegiados por
neurônios férteis e capazes de nos surpreender com atos grandiosos em prol da
humanidade ao mesmo tempo em apenas com uma ‘canetada’ ou ‘carteirada’ num
único gesto põem por fim décadas de lutas, moralidade, respeito e conquistas.
Mas voltando lá com meus
‘heróis’ vizinhos, cresci ouvindo de meus pais o respeito que deveria ter para
com aquele tipo de autoridade, as quais no meu consciente ainda inocente um
delegado de polícia, juízes, promotores de justiça, prefeito ou qualquer outro
cidadão de bem jamais seria capaz de ser contraventor das leis, jamais se
corromperiam ou jamais se deixava levar pelo poder, na minha inocência essas
pessoas eram ilibadas e donas de uma índole chamada MORAL e senhores da ÉTICA.
Ledo engano. Com raríssimas exceções os detentores do poder sejam eles do
judiciário ou de qualquer outra repartição e principalmente na política em sua
maioria se dedicam a criar e produzir e a disseminar na sociedade o seu mau
caráter, causando estragos de toda ordem, sobretudo prejudicando, roubando, corrompendo
e se deixando corromper, vendendo sentenças e criando leis abusivas em
benefício próprio, exemplos existem aos montes por aí e, aqui dentro do em
nosso próprio Estado e mesmo aqui onde moramos.
Vejo com tristeza, nos dá
uma sensação de impunidade, de que estamos vivendo uma realidade irreal aonde o
correto é não agir corretamente, o desonesto a vantagem sobre o outro, a
ganância pelo poder e pelo dinheiro sobrepõem aos valores morais, éticos e
humanos. Pelo poder mata-se, ludibria, corrompe e transgride a Lei, leis que
deveriam servir de escudo e proteção os menos favorecidos ou àquele que fosse
correto, no entanto o que vemos são leis criadas para proteção de marginais
togados ou não, porque bandido é e sempre será bandido, seja ele doutor ou um
reles traficante ou ladrão de galinhas, é como disse Antonio Erminio de Moraes:
“se não tomarmos cuidado, no próximo
milênio não vamos ter nem ética nem dignidade no dicionário português. Serão substituídas
por esperteza”.
Ailton.
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